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Segunda-feira, 20 de Outubro de 2025
Paraquedismo em Altas Temperaturas

Segurança

Paraquedismo em Altas Temperaturas

Entenda os Riscos e Como as Condições Climáticas Influenciam na Segurança e Eficiência dos Saltos

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ONDAS DE CALOR E CONDIÇÕES ATMOSFÉRICAS

No verão e na maioria dos meses nos países tropicais, o céu está azul, o vento é calmo e faz um sol de rachar. O que parece um cenário perfeito para a prática do paraquedismo pode nos apresentar adversidades que interferem diretamente na performance e na segurança. Ao contrário do que pensa a maioria dos paraquedistas, a ausência de vento associada às altas temperaturas é delicado. Especialmente durante o verão, nas áreas de salto com maior elevação em relação ao nível do mar, esses elementos são fatores de risco capazes de provocar acidente - principalmente durante a navegação e o pouso.

 A compreensão das condições atmosféricas e suas variáveis é fundamental para a segurança e eficiência das operações aéreas. A pressão atmosférica, a densidade do ar, a altitude de densidade e os efeitos da temperatura sobre o comportamento do velame são fatores que se conectam. Vamos falar de segurança na pilotagem de velames, explorando o inter relacionamento destes quatro temas chave:

  1. A) PRESSÃO ATMOSFÉRICA

A pressão atmosférica é a força exercida pelo peso do ar na atmosfera da Terra sobre uma superfície, no caso, uma área de salto qualquer. A pressão atmosférica varia de forma inversamente proporcional à altitude, diminuindo à medida que se ascende na atmosfera. Isso ocorre devido à diminuição da massa de ar acima de nossas cabeças à medida que ganhamos altitude. Podemos sentir também o aumento da pressão do ar nos ouvidos conforme nos aproximamos do nível do mar ou quando o avião ganha altitude, pois a quantidade de ar acima de nós muda. A pressão atmosférica é medida em unidades como o Pascal (Pa) ou Hectopascal (hPa), sendo o valor padrão ao nível do mar de aproximadamente 1013,25 hPa (International Standard Atmosphere).

Para fins práticos devemos entender que quanto mais próximos estivermos do nível do mar, maior será a pressão atmosférica e, consequentemente, maior será a sustentação do velame e a eficiência do flare para pouso (desconsideramos aqui eventuais efeitos de turbulência provocados pelo vento e pelo relevo). O arco de recuperação e a razão de descida do velame tendem a ser menores no nível do mar. Em outras palavras, é mais vantajoso e seguro saltar de paraquedas quando a pressão atmosférica é mais alta - próximas ao nível do mar. Ao contrário, quanto maior for a elevação de uma determinada área de salto, menor será a pressão no local. Baixa pressão atmosférica prejudica a sustentação do velame e a eficiência do flare, além de incrementar a razão de descida do velame.

  1. B) DENSIDADE DO AR

 A densidade do ar, definida como a massa do ar por unidade de volume, é crucial para a performance aerodinâmica e para a sustentação do velame. A densidade do ar está diretamente relacionada à pressão atmosférica e é inversamente proporcional à temperatura e à umidade. Logo, quanto mais quente e úmido o ar, menos denso ele será. A redução da densidade do ar reduz a sustentação de uma aeronave ou de um velame, exigindo maiores velocidades de decolagem e pouso. Também provoca maior razão de descida e maiores velo - cidades horizontais em um velame que, ao contrário das aeronaves, não possui motor e conta unicamente com a aceleração da gravidade e a sustentação aerodinâmica decorrente do fluxo de ar para voar. Em outras palavras, quanto maior a umidade (nuvens) e maior a temperatura do ar, menor será a sua densidade e a sustentação do velame, o que naturalmente fará com que nossos paraquedas afundem mais e voem mais rápido. Isso exige atenção redobrada e reflexos mais rápidos na hora de pousar.

  1. C) ALTITUDE DENSIDADE

Altitude densidade é um conceito que relaciona a densidade do ar com a altitude efetiva em que uma aeronave está operando ou um velame está voando. Não corresponde necessariamente à altitude física, mas sim a uma medida que considera principalmente as variações de temperatura. Altitudes de densidade mais altas significam, para fins práticos, como se o velame estivesse voando numa altitude maior do que ele efetivamente está. Quando o ar está muito quente - e por isso menos denso - o velame irá se comportar como se estivesse numa altitude maior do que efetivamente está, e seu desempenho será prejudicado. Em poucas palavras, quando faz muito calor o velame afunda muito mais, voa mais rápido e responde menos ao comando do batoque no momento do flare. É quando geralmente os paraquedistas atrasam o flare e acabam se acidentando no pouso. Quando o calor for muito intenso, o flare tende a ser menos eficaz e é ainda mais importante realizar um bom planejamento da navegação antes do salto: a aproximação estável e estabilizada com as duas mãos para cima e fazer o flare no momento correto com absolutamente toda a extensão dos braços. Curvas baixas se tornam especialmente perigosas nessas condições, pois o velame tende a ter mais dificuldade de recuperar de um mergulho. Treine em solo o movimento do flare, aprimore a memória muscular. Jamais subestime o calor e nunca faça curvas baixas: "tempo quente, pouso quente".

  1. D) EFEITOS DA TEMPERATURA NA ATMOSFERA

Diante de todo o exposto até aqui fica fácil compreender a enorme influência do calor na performance e no comportamento do velame. O aumento da temperatura causa a expansão do ar, o que reduz a sua densidade e, por conseguinte, a pressão atmosférica em uma determinada altitude. Este efeito é particularmente relevante em climas naturalmente mais quentes e durante o meio do dia, quando as altitudes de densidade são geralmente mais elevadas. A temperatura influencia também os padrões de vento, formação de nuvens e fenômenos meteorológicos, afetando diretamente a navegação e o pouso.

A compreensão desses conceitos fornecem a base para o entendimento das condições em que realizaremos nosso voo, e garantem que as práticas operacionais sejam adaptadas para maximizar a segurança e a eficiência frente às dinâmicas e desafios impostos pela atmosfera local.

O calor excessivo também exige que estejamos sempre hidratados adequadamente para não termos nenhum mal súbito em nenhuma das etapas do salto. É aconselhável que utilizemos roupas adequadas, mas sem esquecermos das proteções necessárias em caso de um pouso eventualmente mais duro e difícil.

O vento é um elemento que contribui imensamente na geração de sustentação. A ausência de vento reduz bastante a sustentação e, no momento do pouso, associado às altas temperaturas, isso pode representar um grande risco de acidentes. Portanto, máxima atenção e cautela em dias muito quentes e sem vento.

Altas temperaturas associadas à muita umidade, especialmente durante o verão, gera zonas de baixa pressão atmosférica onde se originam as perigosas formações meteorológicas chamadas Cumulus Nimbus, ou CBs.

Cuidem-se sempre, chequem seus equipamentos e lembrem-se: área aberta para todas as categorias nem sempre é sinônimo de ambiente ideal e livre de surpresas.

Bons saltos a todos!

Leonardo del Masso de Queiroz Advogado/IAFF/Coach BBF/Tandem Pilot/Instrutor IBA de Tunel de Vento/ Piloto Comercial de Avião/Membro Ofi - cial CIS CBPq

ACOMPANHE: @leodqueiroz

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